Depois do atraso de um ano devido à pandemia de Covid-19, as Olimpíadas de Tóquio foram iniciadas na penúltima semana do mês de Julho. Nesta edição três novas modalidades estreiam na maior competição do mundo: o basquete 3x3, o surfe e o skate. Trazendo medalhas para países como Japão, Estados Unidos, Brasil, Austrália, Rússia, Sérvia, China e Letônia, e envolvendo mais um grande número de atletas e nações, esses esportes carregam a cultura urbana em seus movimentos e histórias e são parte importante das relações na cidade.
Se por um lado o surfe tem suas origens na região do Havaí e da Polinésia, onde o esporte era praticado por diversas classes sociais e por homens e mulheres, por outro, seu espalhamento pelo mundo durante o século XX, após a colonização e um período de proibição, foram fundamentais para a cultura popular e baby boomer dos anos 1960.
Essa cultura do surfe se equipou com elementos estéticos que dialogam com essa identidade, como é possível ver nos projetos selecionados neste artigo. Além disso, o surfe também influenciou o surgimento de outro esporte estreante do meio olímpico, o skate. Partindo de uma adaptação dos crate scooters, uma espécie de patinete de madeira com caixas, o skate aproveitou a popularização do surfe nos Estados Unidos durante os anos 1960 para potencializar o esporte como um “surfe urbano”, praticando-o nas movimentadas ruas da orla da praia.
O esporte foi se desenvolvendo e se separando em duas linhas principais: o vert, que é o skate praticado dentro dos half pipes com manobras aéreas e que tem sua origem nas práticas dentro de piscinas vazias pela Califórnia; e o street, a prática que combina manobras performadas em um ambiente urbano, com escadas, corrimões, bordas e outros obstáculos.Com o passar dos tempos e a popularização do esporte, enquanto o vert se tornou um esporte monetarizado em jogos oficiais, a prática do skate street encontrou desafios no convívio urbano, sendo muitas vezes tratado como sinônimo de vandalismo.
Um exemplo disso é a experiência da cidade de São Paulo, onde o skate foi proibido pela prefeitura em 1988 por conflitos entre os skatistas e a elite paulistana, e só foi retomado como prática liberada em 1990 com a troca da gestão municipal. Assim como em outros lugares pelo mundo, o skate foi marginalizado, se tornando um movimento de resistência urbana na disputa pelo uso dos espaços, na qual de um lado temos uma elite conservadora e do outro grupos que lutam por cidades mais acessíveis e democráticas. Desde então, os skateparks se tornaram uma importante infraestrutura urbana, apesar da prática do esporte não se restringir a eles.
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Nessa mesma perspectiva de marginalização de esportes e de disputa pela cidade, o basquete 3x3 aparece como um importante esporte urbano de resistência. Conhecido como o esporte urbano mais praticado do mundo, o basquete 3x3 deriva do basquete convencional jogado em quadra, mas com adaptações para ser jogado nas quadras ao ar livre, muito comuns nos bairros periféricos dos Estados Unidos.
As experiências desses esportes mostram a importância das cidades envolverem as infraestruturas esportivas em seu tecido urbano, não somente pelos benefícios da prática esportiva para a saúde, mas também como espaços que permitem encontros, trocas e o desenvolvimento de culturas e diálogos necessários dentro da sociedade.